terça-feira, 1 de junho de 2010

Meu grande mestre



Eu fico emocionado todas as vezes que eu me lembro da amizade que tenho com meu professor, o violinista judeu Natan Schwartzman, é uma amizade de mais de 10 anos, firmada ao longo de minha carreira, ele é realmente um pai, me ensinou tudo que sei e o que não consegui aprender também (risos).
O Natan é um senhor de 80 anos de idade hoje, que nasceu em Niterói no estado do Rio de Janeiro, e logo cedo descobriu para que veio ao mundo, e deixa bem claro com o talento e a carreira solida que teve.
Eu conheci o Natan com 65 anos de idade, eu tinha na época 11 anos, estudava com Cecilia Guida e com meu avó também, e fiquei fascinado ao ouvir a Cecília dizer que no Brasil com a experiência e a carreira que Natan teve, ninguém poderia esquecer que ele era o maior presente musical que Deus dera aos violinistas brasileiros, ela falava de uma forma tão empolgante, que eu decidi correr atrás do Natan pra conhecê-lo, acho até engraçada minha atitude, consegui com a própria Cecília o telefone dele, e liguei para sua casa, onde sua esposam, a estimada Dona Mery (como a chamo), atendeu gentilmente o telefone, pedi para falar com o Natan, e quando ele atendeu, fiquei com muito medo, tremia, ele logo disse, quem é você? Quem lhe deu meu telefone? Depois de responder um questionário enorme, vi que Natan não gostava muito  de falar ao telefone, então ele me convidou para tocar para ele, no dia 10 de maio de 1995, uma quarta-feira as 15 horas.
Cheguei ao prédio em que ele mora até hoje, com uma hora de antecedência, e esperei ansioso o aluno anterior sair, quando chegava os 5 minutos finais da espera, eu toquei o interfone e o porteiro me anunciou ao senhor Natan, que mandou que eu subisse. Era um prédio muito elegante, e eu menino de calças curtas com quase 12 anos, sozinho subindo as escadas, encontro um senhor subindo também, que puxa assunto comigo, e pergunta: nunca te vi aqui, você mora aqui? Quem veio ver?
Eu respondi que não morava e que ia ver o senhor Natan Schwartzman, o homem sorri e diz, sim, o Natan e eu somos amigos de infância, andávamos juntos quando ainda usávamos calças curtas e sorriu largamente, ele se vira e pergunta como se encravasse uma espada em meu peito, O que você acha do Natan?. Eu respondi que não o conhecia pessoalmente, mas que tinha certeza que no Brasil não tinha ninguém melhor que ele, e então por isso estava ali ia tocar para ele, tinha o sonho de ser seu aluno, de ter uma vaga em sua classe.
Nos despedimos e o homem entra em uma porta de serviços no andar de Natan, o apartamento era imenso e ocupava o andar todo, toquei a campainha, e sua empregada me recepcionou muito bem, mandou sentar-me e me acomodar, pegar o violino e fazer escalas de 3 oitavas, eu fiquei assustado, ate a faxineira do Natan sabia dar aulas (risos), mas de tanto ouvir o Natan falar isso, ele pegou o habito de dar este recado dele aos alunos.
Quando ouço uma porta abrir e aquele senhor que subira comigo a escada sair por de traz dela, gritando meu nome e rindo, me assustei, eu havia conhecido meu nobre amigo Natan na escada de seu prédio, ele me abraçou como se nunca tivesse me visto, e me disse “Shalon”, nem respondi, não sabia o que dizer direito.
Vamos lá menino, me mostre o que  você sabe, com um tom desafiador, me disse ele, o que vai tocar? Eu disse Mozart ou Beethoven o senhor escolhe, risos e mais risos da parte dele, escolho que você acha que vai se sair melhor, eu disse a sonata primavera de Beethoven então, Natan olha para mim naquele momento e diz “você sabia que eu toquei esta sonata para Zino Francescatti? E que ele me concedeu uma bolsa de estudos na Julliard School, veja bem o que vai fazer, pois amo esta peça.”
Empunhei meu amado violino e iniciei o lá da partida, Natan grita: - calma!!! Escala de sol maior em três oitavas sem repetir a Tonica, suba depois os arpejos, e depois faça seguida a escala de sol menor... minhas aulas com o Natan começavam ali. Depois de tocar a maravilhosa sonata de Beethoven, eu olho Natan com os olhos cheios de lagrimas, com seu lenço branco em mãos, e a me dizer, Hudson Cavalcante (ele nunca admitiu escrever meu nome com “R”) você é sensacional, tenho uma vaga em minha classe, e ela estava esperando por você, eu comecei a chorar emocionado, ele me abraça e diz: -garoto deixe pra chorar quando você estiver  fazendo seu Debut.
Liguei para o Natan marcando minha aula, e em 15 anos, todas as vezes que eu ligo pra isso ouço sempre a mesma coisa:- Vejamos, você pode vir na quarta-feira, às 15 horas? Eu dou uma larga risada e sempre digo o mesmo:-o senhor quem decide maestro.
No Natan eu encontrei não só um professor, mas um amigo, um especialista em violino, e uma pessoa que pode me orientar nas mais adversas situações que o violino possa me colocar, tocamos muitas coisas já, desde os barrocos até os mais modernos compositores, minha decisão de não levar adiante a carreira que tinha deixou-o um pouco tanto nervoso digamos, mas ainda quando subo no elevador de seu prédio para as aulas que se tornaram quinzenais ao em vez de semanais, pela minha falta de tempo, sinto jorrar em mim uma quantidade magnífica de antigas emoções e vivencias que naquele lugar tive. Lá tive o prazer de conhecer Accardo, Utu uggi, entre outros amigos do Natan.
As coisas mais engraçadas que eu ouvia eram tantas que nem sei o que colocar aqui. Um dia entrei na aula, e ele me disse tire o sapato, e deite-se no chão, vamos fazer relexamento induzido agora, e começou então a mais sensacional aula de relaxamento que já tive na vida. Outro fato incrível foi quando toquei pela primeira vez ao Natan o concerto de Beethoven, ele disse: bom Hudson (detesto que ele me chame assim), você é bom rapaz, pena que não sabe disso, e desembestou em uma risada frenética. São tantos bons momentos que nem sei o que contar aqui, um dia entrei na aula e estava Natan na mesa, com duas partituras nas mãos, eram o concerto 5 de Paganini, e as sonata de Bartok para violino solo, eu quis olhar e ele me disse, vou queimar isso, espantado eu disse , não faça isso professor, e ele me disse, essas peças são tão difíceis, que não quero ter aqui, partituras que não consigo tocar, elas me torturam, e me dizem que sou incapaz, eu cai na risada kkkk.
A melhor parte é quando ligo pra ele, e ele pergunta que Rudson é, eu sou o único aluno do Natan hoje, ele não ensina mais, somente a mim, ai digo, seu aluno Natan, ele fala, só dou aulas ao Hudson, e então eu grito, sou eu Natan, ola Hudson como vai? Vejamos, você pode vir na quarta-feira, talvez as 15 horas ...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O Arco






O Arco




A historia dos instrumentos da família das cordas friccionadas, é marcada por crescentes mudanças e evoluções, tanto no que se diz em aspectos físicos, quanto também em aspectos sociais, técnicos e culturais. Um grande exemplo disso é o fato de que antes de se tornar o instrumento mais conhecido desta família, o violino era um instrumento comumente associado a mendigos e pobres, só após o contato de reis e nobres com este fabuloso instrumento, que pode então ser considerado instrumento fino e da realeza, lógico que estes fatos se deram muito antes do período barroco, no inicio da criação deste instrumento, este instrumento sempre esteve em constante mudança, como vimos no artigo que fiz sobre violinos barrocos, houveram mudanças significativas nas medidas, nas cordas, nas peças, e principalmente nos arcos.

E então, proponho que falemos um pouco sobre este componente importante da família das cordas friccionadas, “o arco”. Esta pequena ferramenta desempenha um papel importantíssimo na execução dos instrumentos, todos eles são friccionados por estes objetos, que recebem de alguns aficionados atenção mais que especial, tanto nos instrumentos barrocos como também nos modernos, houve muitas experiências no que tange a estas “varetas mágicas”.

Já os chineses e os árabes utilizavam arcos para tocar seus instrumentos, assim percebemos que a idéia de utilizar algo que não fosse os dedos parar tocar ou ferir as cordas, são mais longínquas do que se pensa superficialmente.

Falemos um pouco sobre a historia dos arcos de violino (que é um assunto que posso falar com propriedade), no período barroco, era de costume todos os artesãos construírem arcos para seus instrumentos, então a especialidade de fazer arcos como se tem hoje, se deu após a era de ouro italiana da luteria, esses profissionais de hoje são chamados de Archetaios (italiano), archetier (francês), e arqueteiro (português), são profissionais que se dedicam especialmente à feitura desses fabulosos instrumentos, como existe a grande tradição de Cremona Itália ser a mãe áurea da lutheria, também se tem a tradição que a cidade de Mirencourt (França) é a mãe áurea da arqueteria, se tem grandes artesãos na França, os mais famosos e reconhecidos no que se diz em desenvolvimento e pesquisas de arco. Os mais famosos e mais excelentes artesãos são os franceses Fraçois Tourte (1747 – 1835), que trabalhou com grandes violinistas para o aperfeiçoamento dos arcos, sobre tudo como o virtuose italiano Giovanni Batista Viotti (1755-1824), foi Tourte quem mudou os princípios do arco barroco, que tinha sua curva côncava e não funcionava bem para determinadas técnicas, mas a pedido de Viotti, mudou a curva para convexa, e logo após se mudou o tamanho do arco a pedido do grande Paganini, e assim se chegou ao que hoje conhecemos, é claro que é uma explicação bem rápida, pois neste progresso, se fizeram os arcos que chamamos de transição. Este mesmo Tourte descobriu que uma de nossas madeiras mais nobres era a mais interessante para se fazer arcos, o Pau-Brasil, mais precisamente da espécie Pernambuco, por ter suas fibras peculiares, e boa resistência e elasticidade, passou a ser utilizado como a madeira de melhor desempenho para os arcos, e assim é ate hoje.
varios modelos de arcos

Os arcos barrocos, tem como os violinos também, diferentes medidas e formatos, existem inúmeros formatos, cada um feito de acordo com o que o seu dono pretendia tocar, sendo assim os mais famosos modelos foram os Vivaldi e Tartini, respeitando as exigências de seus respectivos donos, a madeira que era comumente utilizada era o Pau-cobra, uma madeira de aparência maravilhosa, com desenhos que lembram como diz seu nome a pele de uma serpente, tem uma beleza inigualável, e em arcos barrocos funciona muito bem, os talões eram feitos da própria madeira ou então de ébano ou cifres, se utilizava como hoje crina animal para as cerdas, e também se rechinava as cerdas antes de se tocar.

Com o avançar da técnica e a necessidade dos violinistas de terem arcos que produzissem mais sons, e ajudassem na execução do instrumento, como já mencionamos, foram desenvolvidas varia teorias, e feitos muitos modelos, uma pesquisa muito interessante de se fazer alias.



Existem artigos sobre um arco que o próprio Stradivari havia feito, e na oficina de Niccolo Amati, também se fazia os arcos.



O mais interessante de toda a historia é que com a evolução da técnica de construção dos arcos, os luthiers também se viram obrigados a mudar muitos recursos doa instrumentos, e hoje se tem uma vastidão de modelos de arco, com o mesmo tamanho que se tornou padrão para cara instrumento, sendo os mais famosos, os de Sartori, Peccati, Tourte e Villaume.
  François Tourte


Espero ter ajudado

Grande abraço a todos.

Rudson di Cavalcanti